segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Alex, Coxa Branca!


Tenho duas filhas. Uma completou dezoito anos de idade, outra acaba de fazer cinco.

A mais velha, universitária, trabalhando e já cuidando da sua rotina diária. A mais nova ainda dependente dos pais. Aquela se descobrindo para a vida, esta descobrindo a vida.

O tempo passou rápido, sem que eu percebesse, a adolescente cresceu, e me trouxe a certeza de que deixei passar coisas importantes, e que não vivi intensamente, ao lado dela, tudo o que deveria ter vivido. Talvez por isso, "colo" na pequenininha e tento aproveitar ao máximo cada sorriso dela, cada descoberta, cada erro, até, pois sei que são momentos únicos, mágicos, que não voltarão mais.

Não quero, aqui, cometer o absurdo de comparar o amor que sinto pelas minhas filhas, com o amor que sinto pelo Coritiba. São coisas bem distintas, mas que permitem, porém,   que se trace um paralelo em relação às coisas que temos o privilégio de acompanhar, mas que, estupidamente, não o fazemos de forma plena.

Sábado passado, ao ver Alex deixar o campo, na metade do segundo tempo, contundido, depois de uma atuação simplesmente deslumbrante, me dei conta de que estou a vivenciar os últimos momentos em campo de um jogador único. Imediatamente, me veio à mente aquela partida de 1995 (que me fez atravessar o Brasil, da Amazônia à Curitiba), aquele gol de Alex contra o Atlético, que ajudou a nos levar de volta à primeira divisão.

Percebi, então, que de lá pra cá já se passaram quase vinte anos, em cujos dias Alex escreveu várias e belas páginas da história do futebol brasileiro e mundial. Me dei conta, não sei se tardiamente, que o simples fato de ver Alex envergando a camisa do Coritiba, para com ela escrever os capítulos finais de sua gloriosa carreira, é um privilégio indescritível, que compensa, em parte, todo o sofrimento que tem ditado a rotina alviverde nos últimos anos.

As vezes chego a pensar que, depois de 1985, foi tirado de nós, Coxas Brancas, o direito à felicidade. De lá pra cá, sucederam-se períodos de trevas, como a década de 90, frustrações imensas, como a perda seguida de dois títulos da Copa do Brasil, humilhações constantes, impostas por dirigentes que do nada saem e ao nada retornam, não sem antes afundar ainda mais o clube, e tragédias que marcaram nossa alma, como os rebaixamentos de 2005 e, principalmente, de 2009. E essa sensação de que estamos a sofrer um castigo eterno por um mal que desconhecemos ter cometido é acentuada quando sofremos gols nos acréscimos de uma partida cuja vitória nos traria não somente esperanças, mas, principalmente, um pouco de alegria.

Por tudo isso, pelas lições diárias de que não se pode deixar de viver intensamente nenhum momento da vida, de que o sorriso tem sido tirado de nossos rostos a cada vez que nos permitimos sonhar em rever o Coritiba grande como um dia foi, pela quase ausência de perspectiva de que possamos ver, em um curto espaço de tempo, a camisa alviverde voltar a ser honrada por um craque do futebol, é que devemos render a Alex toda a nossa atenção e todas as nossas homenagens, pois jogador igual, seja no trato com a bola, seja em devoção ao clube no qual se formou, poucos clubes no mundo tiveram.

Não sei como 2014 terminará para o Coritiba. Espero que ao final da partida contra o Bahia, no dia 07 de dezembro, a tristeza pela despedida de Alex possa ser ao menos diminuída pela permanência do time na primeira divisão. Mas, aconteça o que acontecer, eu vou continuar a usar a camisa 10 do Coritiba, como o nome de Alex às costas, como um presente que me foi dado pela vida, como a lembrança de que, um dia, fomos grandes, e como a fonte da esperança de que dirigentes aventureiros não acabem por nos tirar, jamais, o orgulho de ser Coxa Branca.

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