O cara vem caminhando pela calçada de uma pequena praça, que fica em frente a um shopping center. Nessa praça há um banco e nesse banco há um velhinho sentado, a olhar o shopping.
O olhar do velhinho é tão triste que o cara não se contém e, movido
pelo dó e pela curiosidade, senta-se ao lado dele e pergunta: "o que foi
vovô, que tristeza é essa?" Mal conseguindo falar por conta de uma voz
embargada, carregada de emoção, o velhinho responde: "meu filho, se
algum dia tiver um amor, lute por ele. Defenda-o,
proteja-o, cuide dele. Não deixe que dele se aproximem pessoas
inescrupulosas, que buscam apenas o seu próprio bem, sem se importar se
com isso podem estar destruindo os sonhos de outrem, ou se com isso
precisam passar por cima de sentimentos de devoção extrema. Se o
possível não for suficiente para defenderes o teu amor, faça o
impossível. Pois nada há de mais triste que o fim de uma paixão. Vês
este shopping aí na frente? Pois aí morava o meu amor. Nesse
lugar aonde hoje as pessoas vêm para comprar, eu vinha antes para ser
feliz. Nesse local eu vivi as maiores alegrias da minha vida, alegrias
tamanhas que nem algumas pequenas decepções conseguiram macular. Neste
lugar aí eu sorri muito mais do que eu chorei, muito embora muitas vezes
as lágrimas que eu derramei aí foram de alegria. Minha paixão era tanta
que eu julgava ser impossível existir um fim para ela. Julgava que
minhas alegrias seriam eternas. Cego, não cuidei dela como deveria. Não
percebi quando ela começou a dar sinais de fraqueza.
Não notei sua crescente debilidade. Como que um corpo sadio atacado por
um vírus, ou como que um belo alazão cujas forças eram sugadas por um
morcego, meu amor foi se esvaindo em sua grandeza. O que era antes
motivo de respeito por quem a conhecia, passou a ser motivo de chacotas e
tema de piadas. Mas eu, ainda cego em minha paixão, imaginava ter tudo
sob controle. Esperava a sucessão dos dias, sempre
achando que a cada pôr do sol a estrela da minha paixão brilharia mais
forte. Quando acordei, meu filho, era tarde demais. Tinham matado a
minha paixão. Pessoas que do nada surgiram e ao nada tornaram, vieram
apenas para destruir algo que eu julgava impossível de ser destruído.
Hoje, dela restam apenas lembranças. Gloriosas lembranças, mas nada além
disso. Aí aonde vês hoje esse shopping, meu filho, eu vinha assistir o meu time jogar. Meu time, minha paixão, minha vida. Que eu não soube defender. E que hoje me faz tanta falta..."
Pior que shopping é virar Igreja. Muito mais fanatismo.
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